Inovação na saúde | 18 MAY 24

Marcador proteico ajuda a prever mortalidade entre pacientes com tipo agressivo de câncer

Estudo da USP também aponta a molécula como possível alvo terapêutico

Causado pela exposição ao amianto (asbesto), o mesotelioma pleural maligno é um tipo de câncer raro, mas muito agressivo, com prognóstico de sobrevida de seis a 18 meses, o que torna necessária a identificação de novos marcadores preditivos e prognósticos para a doença.

Em trabalho publicado no periódico Frontiers in Immunology, patologistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) sugerem que a expressão de uma molécula chamada mesotelina (uma proteína sintetizada por células tumorais do mesotelioma) ajuda a prever a evolução clínica do paciente. E, ainda, que a proteína seria um potencial alvo terapêutico.

“Existem vários outros alvos terapêuticos, mas essa proteína tem sido um candidato muito promissor, a ‘menina dos olhos’, tanto como marcador prognóstico quanto preditivo da doença, mas não é só isso. Ao inibi-la, vimos que é possível diminuir a proliferação celular e conter o crescimento tumoral”, revela Vera Luiza Capelozzi, uma das autoras do artigo.

Ela explica que a exposição às fibras do asbesto destrói as células mesoteliais normais da pleura, membrana que reveste o pulmão. A doença se desenvolve a partir do efeito combinado entre as células da pleura e os macrófagos (células de defesa) que fagocitam as fibras do asbesto.

“O asbesto é um silicato que tem a estrutura semelhante à de um cristal. Quando a fibra de asbesto é inalada, o macrófago, nossa principal célula de defesa, fagocita essa fibra, mas não consegue destruí-la. Com o tempo, ocorrem reações inflamatórias recorrentes. Ao redor desse macrófago estão as células normais da pleura. Com o passar dos anos, as células mesoteliais que tiveram contato com esse macrófago portador da fibra podem se proliferar sem controle e, em uma dessas divisões, podem se transformar em células neoplásicas.”

A doença fica latente por um período e costuma aparecer após os 50 anos. Acomete mais homens do que mulheres, principalmente trabalhadores ou ex-funcionários de empresas que empregavam ou empregam asbesto em materiais como caixas d’água, telhas, forros, pisos e divisórias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu alertas sobre o amianto, classificado como reconhecidamente cancerígeno e banido em diversos países, incluindo o Brasil, que só o proibiu em 2017, depois de anos de pressão das vítimas de doenças causadas pelo material, entre elas o mesotelioma pleural. Desde então, muitas vezes reunidos em associações, os afetados vêm processando empregadores.

“Esse tumor tem várias implicações e uma delas é jurídica. Ao assinar um laudo de mesotelioma maligno, abre-se uma fronteira para ajudar o oncologista, o cirurgião, mas também para embasar processos trabalhistas. É um terreno no qual é preciso ser muito firme”, comenta a pesquisadora.

Microambiente favorável

A equipe confirmou a importância da mesotelina – como biomarcador e como alvo promissor no tratamento do mesotelioma – e ainda examinou sua relação com o sistema imunológico no cenário do microambiente tumoral.

“Nossa ideia desde o início foi avaliar o microambiente tumoral e não a expressão gênica. Porque, se o microambiente tumoral não for favorável, a célula tumoral não progride. Esse cenário é importante para a célula se movimentar, invadir e se implantar em outros órgãos.”

Na busca de um tratamento promissor para a doença, os cientistas investigaram a expressão proteica da mesotelina e do fator programmed cell death ligant 1 (PD-L1), uma proteína de ponto de controle (checkpoint) imunológico que regula a resposta de defesa e previne a autoimunidade (o ataque a tecidos saudáveis).

 

Comentarios

Para ver los comentarios de sus colegas o para expresar su opinión debe ingresar con su cuenta de IntraMed.

AAIP RNBD
Términos y condiciones de uso | Política de privacidad | Todos los derechos reservados | Copyright 1997-2024