Investigadores dirigidos por Hiroshi Ohno do Centro RIKEN de Ciências Médicas Integrativas (IMS) no Japão descobriram um tipo de bactéria intestinal que poderia ajudar a melhorar a resistência à insulina e, por tanto, protege contra o desenvolvimento da obesidade e diabetes tipo 2. O estudo, publicado 30 de agosto na revista científica Nature, envolveu uma análise genética e metabólica de microbiomas fecais humanos e depois corroborou experimentos em ratos obesos.
Comentários |
A insulina é um hormônio liberado pelo pâncreas em resposta à glicose no sangue. Normalmente, ajuda que o carboidrato chegue aos músculos e ao fígado para que possam utilizar a energia. Quando alguém desenvolve resistência à insulina, significa que a insulina não pode fazer o seu trabalho e, como resultado, permanece mais açúcar no sangue e o pâncreas continua produzindo mais insulina. Tal resistência pode provocar obesidade, pré-diabetes e diabetes tipo 2.
O intestino contém bilhões de bactérias, muitas das quais decompõem os carboidratos que comemos quando, de outro modo, não seriam digeridos. Embora muitos tenham proposto que este fenómeno esteja relacionado com a obesidade e a pré-diabetes, os fatos ainda não são claros porque existem muitas bactérias diferentes e faltam dados metabólicos. Ohno e colaboradores (2023) abordaram esta carência com o seu estudo integral, e no processo, descobriram um tipo de bactéria que poderia ajudar a reduzir a resistência a insulina.
Em primeiro lugar, examinaram tantos metabólitos quanto puderam detectar nas fezes fornecidas por mais de 300 adultos em seus exames médicos regulares. Compararam este metaboloma com os níveis de resistência à insulina obtidos das mesmas pessoas.
“Descobrimos que uma maior resistência à insulina foi associada com um excesso de carboidratos na matéria fecal”, disse Ohno, “especialmente monossacarídeos como glicose, frutose, galactose e manose”.
Caracterizaram a microbiota intestinal dos participantes do estudo e sua relação com a resistência à insulina e os carboidratos fecais. Os intestinos das pessoas com maior resistência à insulina contêm mais bactérias da ordem taxonômica Lachnospiraceae do que as demais. Além disso, as microbiotas que incluíam Lachnospiraceae se associaram com um excesso de carboidratos fecais. Assim, uma microbiota intestinal dominada por Lachnospiraceae se relacionou tanto com a resistência à insulina como com as fezes com excesso de monossacarídeos. Ao mesmo tempo, a resistência a insulina e os níveis de monossacarídeos foram mais baixos nos participantes cujos intestinos continham mais bactérias do tipo Bacteroidales do que outros tipos.
Logo, a equipe se propôs a observar o efeito direto das bactérias sobre o metabolismo em cultivos e em ratos. No primeiro, as bactérias Bacteroidales consumiram os mesmos tipos de monossacarídeos que foram encontrados nas fezes de pessoas com alta resistência à insulina, sendo a espécie Alistipes indistinctus que consumiu a maior variedade. Em ratos obesos, a equipe observou como o tratamento com diferentes bactérias afetava os níveis de açúcar no sangue. Descobriram que A. indistinctus reduziu o açúcar no sangue e a resistência à insulina, além da quantidade de carboidratos disponíveis para os ratos.
Estes resultados foram compatíveis com os achados de pacientes humanos e tem implicações para o diagnóstico e tratamento. Como explica Ohno, “devido a sua associação com a resistência à insulina, a presença da bactéria intestinal Lachnospiraceae poderia ser bom biomarcador para a pré-diabetes. Assim, o tratamento com probióticos que contenham A. indistinctus poderia melhorar a intolerância a glicose em pessoas com pré-diabetes”.
Ainda que a maioria dos probióticos de venda livre atualmente não contenham bactérias identificadas neste estudo, Ohno recomenda precaução em caso de que sejam disponibilizados. “Estes achados devem ser verificados em ensaios clínicos em humanos antes que possamos recomendar qualquer probiótico como tratamento para a resistência a insulina”.