Introdução |
A gastroenterite infecciosa é uma das doenças mais comuns em todo o mundo e um de seus principais sintomas, a diarreia, incide em cerca de 1 bilhão de episódios e 3 milhões de mortes anualmente em crianças menores de 5 anos. Nos países industrializados, a mortalidade associada é baixa, mas a morbidade permanece alta. A maioria dos episódios de gastroenterite infecciosa é breve e não requer atenção médica, mas os problemas sociais e econômicos são substanciais por causa da alta incidência.
Além disso, nos últimos anos, com as crescentes preocupações sobre a mudança climática global, muitos estudos se concentraram em associações entre a variabilidade do clima e flutuações na incidência de gastroenterite infecciosa. A incidência de gastroenterite infecciosa exibe ciclos sazonais regulares. A sazonalidade da doença sugere que o clima é um dos fatores que desempenha um papel importante na sua incidência.
Embora as variações meteorológicas possam contribuir para um aumento da incidência da doença infecciosa gastrointestinal, poucos estudos investigaram a associação entre variabilidade climática e os casos de gastroenterite infecciosa. Por isso, Onozuka e colaboradores (2010) investigaram uma possível relação entre a variabilidade do tempo e a incidência semanal de gastroenterite infecciosa entre 1999 e 2007 em Fukuoka, Japão.
Métodos |
Foram coletados dados de casos da doença, disponibilizados pelo Ministério da Saúde e Bem-estar, de cerca de 120 instituições médicas e das médias diárias de temperatura e umidade relativa em Fukuoka, Japão, de 1999 a 2007. A média semanal para a variabilidade climática foi calculada a partir dos registros diários.
A relação entre o número de casos semanais de gastroenterite infecciosa com temperatura e umidade foi examinada através de relações de causalidade linear. Devido às análises exploratórias e existentes na literatura, os autores consideraram até 8 semanas para que a temperatura influenciasse no número de casos da doença. Além disso, a umidade foi analisada pois os autores acreditaram que seja outro possível fator causal para o desenvolvimento da doença.
Resultados |
No total, 422.176 casos de gastroenterite infecciosa foram notificados durante o período do estudo. Deste número, 9% tinham menos de um ano e 29,4% entre 1 e 2 anos. Uma grande variedade de agentes etiológicos foi associada a essas doenças como norovírus, rotavírus e Escherichia coli. O número total de casos de atingiu o pico durante o inverno, mas a sazonalidade também variou entre os patógenos primários, de modo que as infecções por norovírus, rotavírus e E. coli atingiram o pico no inverno, primavera e verão, respectivamente.
> Relação com a temperatura e umidade
O número semanal de casos de gastroenterite infecciosa aumentou em 7,7% (IC 95% 4,6–10,8) para cada aumento de 1oC na temperatura média e de 2,3% (IC 95% 1,4–3,1) para cada redução de 1% na umidade relativa. De 1999 a 2007, infecções casos de gastroenterite aumentaram significativamente com o aumento da temperatura média e diminuição umidade relativa em Fukuoka, Japão.
Discussão |
Os resultados sugeriram que dois importantes parâmetros climáticos, temperatura e umidade, poderiam explicar as associações com a incidência de gastroenterite infecciosa.
Temperaturas mais altas aumentam o potencial de exposição a parasitas bacterianos e diarreicos e prolongam o tempo de sobrevivência de bactérias como E. coli enterotoxigênica em alimentos contaminados. No entanto, temperaturas mais baixas também aumentam a transmissão de vírus causadores de diarreia. Em temperaturas intermediárias (18–23 oC), as crianças podem ser expostas a diversos tipos de vírus, patógenos bacterianos e parasitários.
Embora os dados sobre as causas específicas da diarreia não foram relatadas no estudo, Cama e colaboradores (1999) sugeriram que no verão haveria um aumento de casos de diarreia bacteriana e no inverno o aumento de infecções por rotavírus. O clima mais quente também pode ser associado a padrões de comportamento, como maior demanda por água e hábitos menos conscienciosos de práticas de higiene, que são conhecidos por promover a transmissão de diarreia. Enquanto outros comportamentos fatores que não estão relacionados à variabilidade do clima podem afetar a sazonalidade da diarreia, como o consumo de certos alimentos durante as férias e mudanças nos padrões de disponibilidade de alimentos. Atividades como período escolar também podem afetar a sazonalidade da gastroenterite infecciosa, mas <20% das crianças foram de idade escolar.
Conclusão |
O estudo desenvolvido por Onozuka e colaboradores (2010) encontrou evidências quantitativas significativas de que o número de infecções de casos de gastroenterite aumentou com temperaturas mais altas e umidade relativa mais baixa.